terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O louco da gamorra


O louco da gamorra.

Desde 1997, Antônio Carlos Correia de Moura é muito mais do que Antônio Carlos, ele é Tony da Gatorra. A música veio como uma forma de falar do que é jogado para baixo do tapete: egoísmo, impunidade, miséria e promessas não cumpridas (como na música Prometeu feita especialmente para Lula-esperança-fracassada-da Silva). O som pós-punk de Tony não busca fazer as pessoas rebolarem na pista, mas refletirem sobre os problemas sociais e a corrupção política.

O instrumento que ele criou tem o desenho e o nome inspirados em uma guitarra. A idéia de juntar sintetizadores equalizados em forma de teclas que produzissem timbres de bateria veio em 1994, quando ele estava com 43 anos. Após três anos de tentativas e adaptações, ele conseguiu o que queria: construir um instrumento para protestar. Os conhecimentos de Tony na área da eletrônica e da mecânica foram indispensáveis. Antônio Carlos era técnico em eletrônica. Para se tornar Tony da Gatorra, e ir da periferia de Esteio (RS) para Inglaterra e Escócia, tocar no festival da Brahma na gringa, em 2007, ele chegou a ser chamado de louco pelos irmãos e a perder a namorada com a qual estava há 15 anos e que desistiu da relação quando ele vendeu a moto para pagar a gravação do primeiro cd independente (Paz e Amor, 1998). Tony, que nunca desistiu da sua idéia, seguiu seu caminho e com o dinheiro que trouxe da Europa, comprou uma moto nova.

Das dez gatorras que ele construiu, uma foi vendida para o guitarrista do Franz Ferdinand, Nick McCarthy (com o qual Tony dividiu o palco na Europa e fez um dueto gatorriano), e outra para Luiza Lovefoxx, do Cansei de ser sexy. Agora ele está em fase de negociações com um empresário para montar uma fábrica de gatorras.

Antônio Carlos é humilde e persistente. Perdeu a mãe quando tinha cinco anos – “minha mãe morreu de omissão [da saúde pública]”. Com sete irmãos e poucas condições financeiras, cresceu num internato agrícola, estudou até a quinta série.

Vivendo na periferia, esgoto ao ar livre, tiroteios na porta de casa e mortos pelas calçadas [presenciei um assassinato em uma das entrevistas], ele sabe do que fala. Apesar da tristeza lá fora, as cortinas da sua casa são de estampas de palhacinhos. Sempre há um sorriso para quem olha aquela casa verde, de sala e demais peças verdes. A esperança espera na sala pequena, não sentada com a boca escancarada de dentes, mas de gatorra na mão, buscando igualdade e justiça.

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