quinta-feira, 17 de julho de 2008


Gato Fritz
Gatos e felinos sempre freqüentaram assiduamente as Histórias em Quadrinhos e a animação, por vezes caçando ratos e pássaros, sendo simples coadjuvantes ou até mesmo agindo como humanos. Garfield e sua preguiça, o psicodélico Felix, o contestador Manda-Chuva, Haroldo e sua paciência para com Calvin dão famosas ronronadas por estas bandas.Robert Crumb também deu sua contribuição as fantásticas histórias felinas, ao criar o gato Fritz, que a princípio era uma inocente homenagem aos personagens da Disney. Crumb começou a desenhar ainda criança, por exigência de seu irmão mais velho, para que tivesse alguma utilidade para a sociedade. Passou então a usar suas histórias como uma alternativa de fuga do ambiente familiar conturbado: seu pai era extremamente violento e sua mãe era viciada em anfetaminas. Mais tarde, na adolescência, Crumb, muito tímido, desenhava para evitar o contato com o resto do mundo. Todo esse ambiente contribui para o “amadurecimento” de seu gatinho Fritz, que além de deixar de ser quadrúpede, personificou-se num jovem estudante universitário, bêbado, drogado, mulherengo e avesso aos chamados bons costumes. Fritz já tinha perdido sua condição de tributo à seus companheiros ratos. Ele tornou-se uma crítica ferrenha, tanto à sociedade quanto à contracultura. Nada escapava dele, dos anticomunistas e James Bond aos revolucionários e filósofos, tudo era um alvo em potencial para sua sátira.
O gato Fritz começou a ser publicado nos anos sessenta na revista Help! e até o fim da década já era o maior personagem dos quadrinhos alternativos. Todo esse sucesso resultou no longa-metragem “Fritz, The Cat” (1972), dirigido por Ralph Bakshi. O filme, generoso em sua polêmica, foi a primeira animação proibida para menores. Repleto de palavrões e ousadias sexuais, o filme é uma autêntica visão do que foi a efervescência dos anos 60 e início dos 70. Em sua galeria de personagens não faltam criticas a sociedade da época, ao retratar os negros do Harlem (corvos) com toda sua fíria e problemática, os meganhas corruptos (porcos), os diferentes tipos de mulher (desde a gatinha até a burra) e até mesmo o mundo judaico (há uma passagem em uma sinagoga).A versão cinematográfica de Fritz foi sucesso de bilheteria. Com isso Crumb passou ser visto com um herói da juventude rebelde dos anos 60, comparado até mesmo a Bob Dylan e consequentemente alvo do assédio da Indústria Cultural. Revoltado com a situação, Crumb fez aquilo que muitos astros pop prometeram e não cumpriram: virou as costas ao sucesso e matou sua personagem mais popular, Fritz.
O que começou como uma homenagem à Disney, acabou se tornando a obra máxima dos quadrinhos alternativos, ou seja, dos gibis que representam bem o contrário daquilo que prega a empresa de Mickey Mouse. É, Crumb conseguiu, e muito, ter alguma utilidade para a sociedade.

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